segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Silêncio.

Hoje vou falar-vos sobre um livro que me marcou, que ninguém conhece, pois o que tenho é de uma edição de autor, onde a tiragem foi apenas de 500, logo certamente foi para pessoas conhecidas da autora e nunca mais foi editado ( isto já sou eu a calcular! ) .

Este livro foi-me dado a conhecer pela minha professora de português do 7º,9ºe 10º ano ( a qual tenho mesmo muitas saudades, pois foi uma pessoa maravilhosa, que me mostrou e soube ensinar o quanto é bom escrever, o quanto é saudável e relaxante. Foi com ela que ganhei o gosto pela escrita, embora agora só escreva profissionalmente e num registo muito formal!Sem contar com o blogue óbvio!) . Numa aula falou-nos do livro, que falava sobre a morte. Sim...o livro tem em todos os seus versos a temática da morte. Parece estranho eu gostar de um livro assim, mas ele é tão real, tão sentimental e tão tocante que não conseguimos não nos envolver. É um conjunto de poemas escritos por Margarida Direito e está dividido em 6 partes: começa no silêncio, passa para o amor, ausência, dor, desespero,morte e termina novamente no silêncio.

No prefácio podemos ler uma frase que explica muito bem todo o livro: " Uma auspiciosa estreia literária da autora a quem a exaltação dos sentimentos se confunde com a leveza das palavras. Surpreende pela juventude, tão adulta é a forma como nos faz mergulhar, pelas palavras, num mar imenso de emoções. Vence a sua inexperiência com talento e sensibilidade a rodos. Interpela-nos na forma e no prepósito de repensarmos o mundo, de o ouvrimos e o sentirmos no seu mais profundo, no amâgo da sua existência- o silêncio" , palavras de Lino Sá.

Eu escolhi um dos poemas que mais gosto e passo a citar:

"O silêncio quebra a monotonia do barulho da minha alma.
Cortam-se estradas e carreiros no meu caminho.
Telefonei para a minha solidão,
Perguntei se algum dia me ia deixar,
Mas ela mandou-me calar.
Perguntei a mim mesma,
Subi ao cimo do subterrâneo do meu ser.
Chorei a dor de ninguém e o desespero do tempo.
Lágrimas perdidas na liberdade de um segundo qualquer.
Talvez o azul tenha ficado vermelho para alegrar o negro do meu destino.
Algo parou!
Talvez o estúpido sonho de sonhar,
Talvez o grito medonho para uma calmaria em alto mar.
Utopia ou sonho? Realidade?
Talvez,provavelmente...sabe-se lá!
Sou um barquito a remos à deriva
Numa tempestade de emoções fracassadas.
Fantasma de mim mesma desacredito os sentimentos,
Cresce a certeza de uma ignomínia medonha.
Bebé num bico de cegonha
Para Norte ou para Sul?
Cobrir-se-á o céu de negro ou azul?
Às vezes pergunto se a paz travou guerra comigo,
Se o ódio é inimigo ou amigo.
Quero que o que resta de mim
Dê resposta a este tempo, a este poema
A esta poesia que me guia a alma.
A esta tristeza que me invade sempre que olho
Para ontem, hoje e o talvez do amanhã...
Se o amanhã caminhar para mim
Espero que seja ele a decidir um fim para estas linhas
Que tanto querem dizer e nada conseguem explicar.
Para este medo de paz, este medo que me quebra,
Este silênciona dor, esta falta de cor.
Eu nunca fui algo ou alguém,
Sou aquilo a que se chama um sorriso perdido,
Um rio sem água, um corpo sem sangue,
Uma página de diário gasta pelo tempo...
Sou?Sou? O que sou?
Sou filha da solidão,
Sou o pesadelo de ser,
Sou o canto para morrer.
De gritar sem voz, de viver sem vida de verdade,
Sou de vida uma saudade...
Uma ansiedade de à alma dar liberdade..."

Poema : Margarida Direito

Nota: Eu sei que é muito forte, triste, mas é muito verdadeiro! E por ser tão verdadeiro se torna tão forte, pois foi escrito quando a Margarida era ainda muito nova e depois de ter perdido a pessoa que amava, ela encontrou nestes poemas uma forma de escape. A morte é sempre difícil de superar, principamente quando nos apanha de surpresa, como neste caso aconteceu. Supostamente estava na altura em que tive conhecimento deste livro, a escrever o seu primeiro romance. Já passaram uns 7 anos desde que o comprei e nunca mais ouvi falar em livro nenhum. Tenho muita pena, pois tenho a certeza que ia ser muito bom e se alguém souber alguma coisa sobre a autora agradecia que me informasse :) Gracci!

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